terça-feira, 8 de setembro de 2009

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para Chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos-
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve,ver
A noite dormir em silêncio.

Não Há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai-
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte-
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente



Vinicius De Moraes

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Apetecia-me desabar em ti,
desconstruir-me perante o teu olhar,
falar, dizer...
embater nessa fortaleza,
e fazer-te ruir perante mim.

simplesmente isto, porque hoje tenho saudades

E não te posso dizer,

que as tenho.

Mas tenho.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Fugaz

Gosto do cheiro das noites de verão.
Cheiro meio campestre, com grãos adocicados, entrecortados pelo cheiro das flores que repousam do sol quente, escondendo-se sob a luz da lua, brilhante e silenciosa.
O ar ligeiramente húmido,
refresca a pele dourada e quente pelo sol. Sol que arde na pele, como desejo, como paixão.

Gosto de dançar descalça
e sentir a areia molhada nos pés.

Mais uma vez a brisa, desta vez um cheiro salgado.

E roubas-me um beijo
lento,
quente,
molhado.
Lento.

Enterro as mãos na areia, para não me perder nas curvas da tua lingua, no sabor dos teus lábios que me arrebata.


Cada sentido, todos os sentidos.

A tua pele cheira a Verão, cheira a uma noite quente.

Cheira a desejo, cheira a um momento.


Momento tão fugaz que deixa a recordação num longo beijo de Verão.

E não se desvanece, escondendo-se nos meus lábios e naquela lua cheia.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Talvez a vida, viver

Passeava num sonho sonhado, 
cantarolando como se não pudesse acordar.

E sonhava, com um passeio adornado pelas fantasias de um qualquer sonho

Continuei a andar, um passo, dois passos, três passos
até que descobri que o sonho era tão somente vida.

A vida quotidiana, a vida tão diária que às vezes dói.

Mas que é maravilhosa.

Maravilhosa por não ser um lugar comum, e por ter as suas próprias cores 
maravilhosa, porque na realidade existe,
e é um passeio ainda sem caminho definido ou conhecido,
em que me posso perder, encontrar e voltar a perder,
até cair, como faço tantas vezes
arranho-me, faz sangue, choro
seco as lágrimas,
e com as mãos, pés, coração,
desbravo o resto do caminho, sempre com a certeza que cada passo, por mais dorido ou cantarolante que seja,
Vale a pena,
Porque é um sonho,breve!

E pela sua brevidade,
um desafio,
mais e mais e mais

ando sempre um pouco mais.

Por mim.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Monólogo Contigo (Para ti)

- Sabes porquê que tenho esta mania de arrumar tudo à minha volta?

Para me organizar mentalmente,
Desempoeirar-me.
Estruturar.

Segura, sentir-me só um pouco mais...

Perdoas-me ter-te afastado na altura, tão certa? Por te destronar a qualquer oportunidade?
Foi o medo.
Tão irracional! 
 mas medo
receio
insegurança
pó.

Querer e ser tudo tão cinzento.(Ainda mais escuro agora)
Ser vermelho, proibido e Paixão. (Mais forte, ainda)
E é Saudade, meu querido.
Aquele aperto tão escrito e descrito, que pode estar gasto e cansado,
mas tão vívido e sentido em mim, agora.
Destabilizador, fustigante e tão frio
Vivo e a gritar,
corroendo o silêncio,
do meu caos.

E a lembrança do teu cheiro, do teu querer desalmado
na maneira como me querias e chamavas,
tão tuas,tão nossas

E novamente a saudade.
lembrança.

- Lembras-te quando te desmentia?
  
Arrumava, meu querido
Tudo aquilo que me davas.
num canto tão meu,
e que só partilhava contigo, silenciosamente e sem marcas.
Para não te mostrar,
na fortaleza que sou,
toda a fragilidade que tenho.

Desarrumaste-me tanto, meu querido, tanto!


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Relincha cavalo doido
Como se cantasses para o mundo
Quebrando a letargia, o cansaço, de quem não te pode ver

Corre pelos céus, com vontade de astro indomável
Com luz de estrela cadente

Deixa o vento moldar-te a silhueta, potro incansável
Para que nada perturbe essa vontade de viver

Sê selvagem e indomável, para sempre.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

E enquanto criança, 
perdia-se nas cores do mundo.
Brincava na magia do sentir, correndo para lá da realidade.
Experimentava.

Saboreava tudo  como se de um gelado de chocolate se tratasse,
Explorava e adorava.

Questionava, com todos os porquês que possuía.
Inquietava-se com todas as respostas mal dadas, esquecidas em segundos.

Adormecia e sorria, sonhando correr para o mundo que a esperava amanhã.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O papel e o branco

Enfrentar uma folha de papel em branco, mesmo que esse papel seja virtual e até de arroz é complicado! Diria até aterrador, mas não custa tentar. Podemos começar por algo ilógico, que com o encadeamento de ideias, se vai tornando lógico e real, mesmo correndo o risco de continuar ilógico para quem nos lê.E aqui se encontra a grande questão: porquê pensarmos na lógica de uma questão e nos seus contornos, se o o indefinido tem muito mais interesse? E se para nós for lógico? Será que o "mundo exterior" é assim tão importante?
Começamos como que a colorir um quadro, daqueles que nunca saem do nosso plano imaginário, pela alegada "falta de jeito" tão frequentemente afirmada. E porque não, não tentar? Desafiar o papel, pondo em cada pincelada um pouco de coragem e loucura, alegria e raiva, um pouco de nós, para o mundo? Chocamos paradigmas e regras que aborrecem toda a espontaneidade de um génio aprisionado por convenções emparelhadas com o medo, do ridiculo e da falha. Não nos importamos sequer com a nossa vontade, ou prazer naquele momento, de gritar cromáticamente com o mundo. Até que algo nos puxa para aquela folha, como um iman. E nos encontramos com o nosso individual ou fragmentado eu. E assumimos. Assumimos o vermelho, o preto, o amarelo e o verde, assim como assumimos todos os dias as nossas olheiras ao mundo, depois de uma noite mal dormida. Porque elas existem, apesar de todo o corrector que possamos pôr.

Olheiras e cores, num delirio nocturno. Talvez fruto da insónia ou do prazer de brincar com letras e pontos, palavras e métricas numa pintura imaginária, totalmente surreal.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

No teu corpo deitado....no repouso de um êxtase surdo e ruidoso… repouso a minha cabeça…As minhas ideias estão em alvoroço… querem-te dizer tantas coisas que nem elas sabem bem o quê…e o corpo continua num rebuliço….o coração descompassado tenta congelar o momento, para que na eternidade aquela sensação perdure… porque os corpos estão cansados demais para dizerem o que querem dizer...

Respiro somente