terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Orgulhosos Anónimos

Sinto tanto sentir assim.
Sinto tanto querer tudo e dizer nada... Não querer pelo medo de querer tanto. De sorrir de olhos em baixo, quando o que me apetece dizer é : não vás.
De querer ficar mas ir, para aumentar a distância entre o que quero e o que não quero que saibas.

Isolo então, em cada passo a frustração muda de já te querer tanto. Agora. De pedir: fica comigo... numa voz tão baixa que os meus lábios não ouvem nem sentem, para te poderem dizer.

Num confronto sufocante
entre mim e eu
na sua dualidade, às vezes tão pouco perfeita.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sob o sol abrasador de um deserto perdido, ela andava... trilhava um caminho já decidido, já trilhado.

Queimava-lhe a pele, queimava-lhe os sentidos, respirava ofegante 
Tentava manter qualquer réstia de sanidade.

As mãos, já não o eram. Só despojos de um qualquer membro. Cansadas, desfeitas, ressequidas.

Os pés. Ainda os tinha?

Como uma cobra, rastejava, ondulante, numa duna de sal. Esfregava-se, exorcizando a sua pele de pecados de fúria, prazer, orgulho.

A pele caiu, ficou esquecida no caminho.

Quando a encontrei, vinha nua. Cansada, queimada, tanto que a confundi com uma qualquer miragem, um espectro da minha própria imaginação.

Peguei nela, estava morta. Morreu nos meus braços, sem me dizer quem era.




sábado, 17 de abril de 2010

Sabes, quando for grande quero conseguir voar, como agora. Quero continuar a olhar para uma nuvem qualquer, uma estrela qualquer e quero conseguir lá chegar, como agora.

Quero continuar a abraçar-te e achar que a felicidade do mundo é esse momento, esse recanto e quero continuar a sentir que serás sempre o meu porto seguro, a minha casa.

Quero que os dias sejam descobertas e que as brincadeiras possam sempre continuar.

Não quero sentir medo do escuro, da ilusão e do tremor. Antes, enfrentá-lo esperando sempre pelos instantes de alivio que no fim acabam por chegar.

Quero conseguir falar sempre contigo, mesmo que palavras não sejam precisas. Quero dar-te a mão e passear pela vida, de modo ligeiro mas atento.

Não quero perder um segundo que seja,

        um momento

              pois o tempo tem pressa e eu não.

terça-feira, 16 de março de 2010

Queria respirar e mal conseguia, queria articular a avalanche de sensações e balbuciava, confusa

Queria-te contar, explicar e dizer

Resurgias-me a cada segundo,mas eras só um  espectro, sombra, nada

Vivias num reduto chamado saudade. Do tempo, de mim, de ti, de agora, de sempre

Já não vives, morreste devagarinho, mataste-te lentamente num jogo de silêncio entrecortado com ausências vagas

Já não te encontro, matei-te.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para Chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos-
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve,ver
A noite dormir em silêncio.

Não Há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai-
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte-
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente



Vinicius De Moraes

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Apetecia-me desabar em ti,
desconstruir-me perante o teu olhar,
falar, dizer...
embater nessa fortaleza,
e fazer-te ruir perante mim.

simplesmente isto, porque hoje tenho saudades

E não te posso dizer,

que as tenho.

Mas tenho.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Fugaz

Gosto do cheiro das noites de verão.
Cheiro meio campestre, com grãos adocicados, entrecortados pelo cheiro das flores que repousam do sol quente, escondendo-se sob a luz da lua, brilhante e silenciosa.
O ar ligeiramente húmido,
refresca a pele dourada e quente pelo sol. Sol que arde na pele, como desejo, como paixão.

Gosto de dançar descalça
e sentir a areia molhada nos pés.

Mais uma vez a brisa, desta vez um cheiro salgado.

E roubas-me um beijo
lento,
quente,
molhado.
Lento.

Enterro as mãos na areia, para não me perder nas curvas da tua lingua, no sabor dos teus lábios que me arrebata.


Cada sentido, todos os sentidos.

A tua pele cheira a Verão, cheira a uma noite quente.

Cheira a desejo, cheira a um momento.


Momento tão fugaz que deixa a recordação num longo beijo de Verão.

E não se desvanece, escondendo-se nos meus lábios e naquela lua cheia.