terça-feira, 4 de maio de 2010

Sob o sol abrasador de um deserto perdido, ela andava... trilhava um caminho já decidido, já trilhado.

Queimava-lhe a pele, queimava-lhe os sentidos, respirava ofegante 
Tentava manter qualquer réstia de sanidade.

As mãos, já não o eram. Só despojos de um qualquer membro. Cansadas, desfeitas, ressequidas.

Os pés. Ainda os tinha?

Como uma cobra, rastejava, ondulante, numa duna de sal. Esfregava-se, exorcizando a sua pele de pecados de fúria, prazer, orgulho.

A pele caiu, ficou esquecida no caminho.

Quando a encontrei, vinha nua. Cansada, queimada, tanto que a confundi com uma qualquer miragem, um espectro da minha própria imaginação.

Peguei nela, estava morta. Morreu nos meus braços, sem me dizer quem era.




sábado, 17 de abril de 2010

Sabes, quando for grande quero conseguir voar, como agora. Quero continuar a olhar para uma nuvem qualquer, uma estrela qualquer e quero conseguir lá chegar, como agora.

Quero continuar a abraçar-te e achar que a felicidade do mundo é esse momento, esse recanto e quero continuar a sentir que serás sempre o meu porto seguro, a minha casa.

Quero que os dias sejam descobertas e que as brincadeiras possam sempre continuar.

Não quero sentir medo do escuro, da ilusão e do tremor. Antes, enfrentá-lo esperando sempre pelos instantes de alivio que no fim acabam por chegar.

Quero conseguir falar sempre contigo, mesmo que palavras não sejam precisas. Quero dar-te a mão e passear pela vida, de modo ligeiro mas atento.

Não quero perder um segundo que seja,

        um momento

              pois o tempo tem pressa e eu não.

terça-feira, 16 de março de 2010

Queria respirar e mal conseguia, queria articular a avalanche de sensações e balbuciava, confusa

Queria-te contar, explicar e dizer

Resurgias-me a cada segundo,mas eras só um  espectro, sombra, nada

Vivias num reduto chamado saudade. Do tempo, de mim, de ti, de agora, de sempre

Já não vives, morreste devagarinho, mataste-te lentamente num jogo de silêncio entrecortado com ausências vagas

Já não te encontro, matei-te.